quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Olhando o mar, sonho sem ter de quê

Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?

Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.

As árvores longínquas da florestaParecem,
por longínquas, 'star em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.

Se tive amores?
Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.
Colhes rosas? Que colhes,
se hão-de serMotivos coloridos de morrer?

Mas colhe rosas.
Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?
Fernando Pessoa

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Entre Infinitos - Imagem.

O Poder da Palavra.

Certa vez, uma jovem foi ter com o bom homem, São Filipe Neri, para confessar seus pecados. Ele já conhecia muito bem uma de suas falhas: não que ela fosse má, mas costumava falar dos vizinhos, deduzindo histórias sobre eles. Essas histórias passavam de boca em boca e acabavam fazendo mal – sem nenhum proveito para ninguém.
São Filipe lhe disse:
– Minha filha, você age mal falando dos outros; tenho que lhe passar uma penitência. Você deverá comprar uma galinha no mercado e depois caminhar para fora da cidade. Enquanto for andando, deverá arrancar as penas e ir espalhando-as. Não pare até ter depenado completamente a ave. Quando tiver feito isso, volte e me conte.
Ela pensou com seus botões que era mesmo uma penitência muito singular! Mas não objetou. Comprou a galinha, saiu caminhando e arrancando as penas, como ele lhe dissera. Depois, voltou e reportou a São Filipe.
– Minha filha – disse o Santo –, você completou a primeira parte da penitência. Agora vem o resto.
– Sim, o que é, padre?
– Você deverá voltar pelo mesmo caminho e catar todas as penas.
– Mas, padre, é impossível! A esta hora, o vento já as espalhou em todas as direções. Posso até conseguir algumas, mas não todas!
– É verdade, minha filha. E não é isso mesmo que acontece com as palavras tolas que você deixa sair? Não é verdade que você inventa histórias que vão sendo espalhadas por aí, de boca em boca, até ficarem fora do seu alcance? Será que você conseguiria segui-las e cancelá-las, se desejasse?
– Não, padre.
– Então, minha filha, quando você sentir vontade de dizer coisas indelicadas sobre seus vizinhos, feche os lábios. Não espalhe essas penas, pequenas e maldosas, pelo seu caminho.
Do livro:
O Livro das Virtudes II - O Compasso Moral
Fonte: http://www.golfinho.com.br/metaforas/default.asp